Na última sexta-feira, 23/01/2009, a grande mídia noticiou que o recém empossado presidente dos EUA, o Sr. Barack R. Obama, suspendeu as restrições ao financiamento de grupos que prestamserviços ou aconselhamento para a realização de abortos no exterior,revertendo, com isso, a política de seu antecessor, George W. Bush.
Quando a proibição estava em vigor, a verba destinada a serviços deplanejamento familiar não poderia ir para clínicas ou grupos que fizessem ouaconselhassem mulheres interessadas em se submeter a um aborto em outrospaíses, mesmo que o dinheiro para essas atividades viesse de outras fontesque não o governo americano.
A medida foi chamada de "Política da Cidade do México" porque foi reveladaem uma conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada nesta cidade em 1984 e se tornou uma das principais políticas sociais do governo do ex-presidente americano Ronald Reagan.
O ex-presidente Bill Clinton, democrata, suspendeu a lei quando assumiu ogoverno em janeiro de 1993 e seu sucessor, George W. Bush, a retomou emjaneiro de 2001 quando tomou posse.
Por ocasião do anuncio da autorização concedida por Barak Obama do fim das restrições ao financiamento de grupos que prestamserviços ou aconselhamento para a realização de abortos no exterior, houve em todo o mundo comemorações por parte de diversas facções da esquerda e de grupos liberais que defendem os chamados “direitos reprodutivos, incluindo o aborto”. No Brasil também houve comemorações. A grande mídia internacional e brasileira noticiou este fato com grande entusiasmo e afirmando que se tratava de uma medida que beneficia os “mais pobres”.
Diante da medida tomada pelo presidente Barak Obama é preciso realizar duas observações de cunho filosófico.
A primeira observação é o fato de ninguém ter notado que na prática o que o presidente Barak Obama fez foi autorizar ao governo americano a financiar a intervenção americana em outros países. E com esse financiamento colocar em perigo a soberania nacional. Vejamos: na hora em que o governo americano pode investigar muito dinheiro em campanhas e ações de planejamento familiar, incluindo o aborto, em outros países como, por exemplo, Brasil, México e outros países do terceiro mundo, então estes países passam a ter sua soberania e a capacidade de auto-decisão enfraquecidos. Na prática a autorização concedida por Barak Obama representa o reinício ou a continuação de uma sofisticada política de neocolonialismo no terceiro mundo.
É interessante notar que nem as diversas facções da esquerda e dos grupos liberais, nem os grupos de direitos humanos ou a mídia que se alto-proclama “crítica e investigativa” não viram nada de errado com a decisão do governo americano. Eles não viram nem um ato de colonialismo e nem muito menos um ato de negação dos direitos humanos.
Durante o governo George W. Bush estes grupos foram implacáveis, criticando e acusando este governo de colonizador e militarista. Não é intenção desse pequeno artigo defender a política neocolonizadora e militarista de George W. Bush.
Entretanto, é preciso deixar claro que não é apenas com armas e exércitos que se conquistam novas terras. A política moderna construiu novos e sofisticados meios de colonização. Entre esses sofisticados meios citam-se, por exemplo, a mídia e o controle da natalidade. O ex-presidente George W. Bush utilizou métodos clássicos de conquista e afirmação do poder como, por exemplo, generais e exércitos. Já o atual presidente, Barak Obama, pretende utilizar novos meios, incluindo jornalista, ONGs, publicitários e o planejamento familiar.
O argumento do planejamento familiar, ou seja, que os EUA precisam gastar milhões de dólares para financiar o aborto e outras ações de controle da natalidade no terceiro mundo é uma sofisticada desculpa para que o governo americano possa penetrar dentro do governo de países do terceiro mundo e lentamente exercer um controle ideológico sobre esses países. Este controle será realizado principalmente por jornalista, ONGs e publicitários. Saí de cena os generais e os exércitos utilizados no governo George W. Bush e entra em cena o controle ideológico do governo Barak Obama.
É preciso deixar claro que (neo)colonialismo é sempre (neo)colonialismo. Não existe um (neo)colonialismo mau e cruel, representado por George W. Bush, e um (neo)colonialismo bonzinho representado por Barak Obama. Quando os diversos grupos de pressão política (esquerda, liberais, direitos humanos, grande mídia, etc) criticaram o governo George W. Bush exerceram uma importante ação em prol da dignidade humana e da soberania das nações. Entretanto, quando estes mesmo grupos se calam e até mesmo concordam com o ato de Barak Obama eles estão contribuindo para o enfraquecimento cada vez maior da dignidade humana.
A atitude dos grupos de pressão política (esquerda, liberais, direitos humanos, grande mídia, etc) é duvidosa. De um lado, critica-se o neocolonialismo e o militarismo de George W. Bush acusando-o de intervenção em países soberanos e, do outro lado, elogia-se a atitude de Barak Obama de autorizar o governo americano a investir milhões de dólares em políticas e ações de pressão para a implementação do controle da natalidade no terceiro mundo, incluindo o aborto. Ninguém percebe que na essência a política de Barak Obama é a mesma de George W. Bush. Muda-se a estratégia técnica o objetivo é o mesmo, ou seja, o controle político dos países do terceiro mundo. Diante dessa atitude a mensagem indireta e até mesmo subliminar que os grupos de pressão política passam é a seguinte: invasão militar a países soberanos não pode acontecer - é antiético, mas invasão ideológica com amplo apoio de ONGs, jornalistas e especialistas em propaganda isto pode ser feito. Este tipo de invasão possui uma espécie de aval ético.
A segunda observação é um pergunta que pode ser feita. Isto é, porque as diversas facções da esquerda e dos grupos liberais, nem os grupos de direitos humanos ou a mídia que se auto-proclama de “crítica e investigativa” não viram nada de errado com a decisão do presidente americano Barak Obama? Porque eles não criticaram essa decisão?
Essa é uma pergunta difícil de ser respondida. Não é intenção de pequeno artigo da uma resposta definitiva a mesma. Entretanto, é possível vislumbrar - pelo menos inicialmente - dois grandes motivos.
O primeiro motivo é a simpatia e até mesmo a filiação ideológica. As diversas facções da esquerda e dos grupos liberais, os grupos de direitos humanos e a grande mídia vêem em Barak R. Obama uma espécie de “profeta”. Ele é visto como o grande visionário que será capaz de realizar todas as promessas que estes grupos realizam a décadas e não conseguem cumprir. Barak Obama seria o indivíduo que tiraria estes grupos do mero discurso ideológico e tornaria este discurso uma experiência social.
O segundo motivo é a questão financeira. Afinal não se vive apenas de ideologias. Na prática o que Barak Obama autorizou foi o governo americano passar a doar milhões de dólares para estes grupos financiarem as ações de planejamento familiar, incluindo o aborto. Durante o governo George W. Bush o cofre desses grupos ficaram vazios, mas agora com a ajuda da nação mais rica do mundo estes grupos voltam a ter novamente seus cofres cheios de dinheiro.
De um lado, este dinheiro será gasto em propaganda e ações em prol do planejamento familiar, incluindo o aborto. Além disso, ele será utilizado para fazer pressão político-eleitoral junto a diversos governos do terceiro com o intuito de legalizar o aborto. O Brasil está na lista dos países que sofrerá pressão político-eleitoral oriunda deste dinheiro. Em breve os países do terceiro mundo terão uma nova onda de publicidade, de distribuição de livros e cartilhas nas ruas e nas escolas, de ampla propaganda na mídia defendendo o aborto e todos os demais meios de controle da populacional.
Do outro lado, este dinheiro será utilizado como “salário” dos milhares de militantes de ONGs, das facções da esquerda e da grande mídia. A fidelidade ideológica custa caro. Por mais que setores da sociedade ocidental se auto-proclamem “críticos e esclarecidos”. Na prática estes mesmos setores estão em busca do patrão de vida da classe média. É preciso trocar de carro, comprar um apartamento em um bairro nobre e coisas semelhantes. Para realizar estes sonhos de consumo é preciso ter muito dinheiro. É aí onde entra o financiamento americano. Critica-se o imperialismo e o neocolonialismo americano, mas se aceita de forma alegre o dinheiro vindo deste mesmo país. Na prática o discurso anti-colonial é pura ideologia. De uma forma indireta a militância anti-americana está a serviço da própria ideologia americana. E a forma como os EUA e o governo Barak Obama encontraram de colocar a militância anti-americana ao seu serviço é dá muito dinheiro para essa militância se divertir em nome do “controle da natalidade e do aborto”.
Um comentário:
Caro Ivanaldo,
Gostei muito do texto. É interessante a elaboração de uma crítica ao "grande" lider norte-americano e a semântica colonialista e tudo o mais.
No final das contas, qual seria a posição com relação aos Estados Unidos? Você acredita que é uma nação que pode ajudar as outras a se desenvolverem ou é simplesmente a "raiz de todo o mal"? O governo Barack Obama mal começou e já temos isso.
Quais seriam os rumos políticos de uma nova esquerda? Por favor, não me diga que devemos retornar, nesta altura do campeonato, ao velho Marx, no sentido de uma ortodoxia marxista: gastei anos e anos em um curso de filosofia com isso na cabeça, e é conversa para boi dormir. Você, que escreveu esse texto, deve ter alguma "carta na manga", e eu estou postando aqui para demonstrar o meu interesse em saber qual é.
Grato pela sua compreensão,
Leonardo.
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